APD
Há pouco terminou a sessão de esclarecimento que a APD veio fazer à Faculdade de Belas Artes, que tinha como objectivo dar a conhecer a dita associação junto de potenciais interessados.
Logo de início, algo já não estava bem: fomos presenteados com uma apresentação deslavada em Powerpoint, com enfoques demasiado longos no fraquinho logo da APD. Sucederam-se as premissas da associação, com um ar de algo já visto: os seus objectivos serão a "protecção da classe", "representar os profissionais junto do Estado", "zelar pelo normal funcionamento da classe" e outros pontos que nos levam para o domínio dos lugares-comuns, tão caros ao discurso corriqueiro de tecnocratas.
Esta apresentação (que no final apela convenientemente à adesão de todos à APD) parte de princípios bastante questionáveis. O que dominou foi um discurso básico, quase demagógico, à volta da defesa da profissão e da auto-regulação; falo de demagogia devido à insistência em argumentos como a limitação do exercício de design a licenciados, que cai sempre bem a um estudante, futuro licenciado, que nunca tenha pensado muito na coisa (é um assunto que surgirá novamente neste blog), e o não reconhecimento por parte das entidades fiscais da profissão de designer, que me parece mais um argumento fácil e circunstancial para aumentar o discurso do coitadinho e do orgulho profissional do que alguma preocupação honesta com o assunto.
Falou-se também na necessidade de estabelecer critérios de qualidade dos trabalhos e dos próprios designers, e é aqui onde a argumentação ganha contornos mais perversos. Para não me alongar demasiado, apenas posso dizer que não tenho muita confiança quando ouço as mesmas pessoas que apresentam directivas em apresentações Powerpoint sofríveis a falar da necessidade de padrões de qualidade.
Outro ponto que me causou bastante incómodo é a apresentação da associação como um foco de consenso entre os designers. O problema é que não podemos falar de consenso se não existe qualquer discussão formal sobre qualquer assunto - basta tomarmos o exemplo da tão desejada Ordem dos Designers, que foi referida, e cito, como um "desenvolvimento natural" da própria APD. Existem toda uma série de polémicas e questões menos superficiais que parecem querer ser ignoradas e tomadas como certas pelas mesmas pessoas que dizem procurar estabelecer consensos sobre elas - e isto é mais do que grave, é desonesto.
Um bom exemplo desta ausência de consenso é o facto, discutido em profundidade nesta sessão, de existirem duas associações de designers a realizar trabalho paralelo: a APD e a AND. Quando perguntei se existiam contactos entre as duas, deu para perceber que existem problemas muito mal resolvidos dentro da própria classe. Parece existir uma birra entre as duas, embora o senhor da APD tenha admitido que a única diferença entre as duas são os estatutos (?!) Se a própria estratégia de associativismo é passível de discórdia, não é concebível que estas duas associações nos tentem vender assuntos como a Ordem enquanto opiniões consensuais.
O que é triste, no final, é assistir a uma sucessão de argumentos mal polidos em função da burocratização do design, cujos resultados parecem convir mais aos anseios mais tecnocráticos de alguns do que à relevância do próprio design. Ao menos, deu para perceber com quem é que estamos a lidar.
Nota: Mandei um mail à AND com algumas questões sobre os seus estatutos há três semanas. Ainda não me responderam. Será o assunto do próximo post.
Logo de início, algo já não estava bem: fomos presenteados com uma apresentação deslavada em Powerpoint, com enfoques demasiado longos no fraquinho logo da APD. Sucederam-se as premissas da associação, com um ar de algo já visto: os seus objectivos serão a "protecção da classe", "representar os profissionais junto do Estado", "zelar pelo normal funcionamento da classe" e outros pontos que nos levam para o domínio dos lugares-comuns, tão caros ao discurso corriqueiro de tecnocratas.
Esta apresentação (que no final apela convenientemente à adesão de todos à APD) parte de princípios bastante questionáveis. O que dominou foi um discurso básico, quase demagógico, à volta da defesa da profissão e da auto-regulação; falo de demagogia devido à insistência em argumentos como a limitação do exercício de design a licenciados, que cai sempre bem a um estudante, futuro licenciado, que nunca tenha pensado muito na coisa (é um assunto que surgirá novamente neste blog), e o não reconhecimento por parte das entidades fiscais da profissão de designer, que me parece mais um argumento fácil e circunstancial para aumentar o discurso do coitadinho e do orgulho profissional do que alguma preocupação honesta com o assunto.
Falou-se também na necessidade de estabelecer critérios de qualidade dos trabalhos e dos próprios designers, e é aqui onde a argumentação ganha contornos mais perversos. Para não me alongar demasiado, apenas posso dizer que não tenho muita confiança quando ouço as mesmas pessoas que apresentam directivas em apresentações Powerpoint sofríveis a falar da necessidade de padrões de qualidade.
Outro ponto que me causou bastante incómodo é a apresentação da associação como um foco de consenso entre os designers. O problema é que não podemos falar de consenso se não existe qualquer discussão formal sobre qualquer assunto - basta tomarmos o exemplo da tão desejada Ordem dos Designers, que foi referida, e cito, como um "desenvolvimento natural" da própria APD. Existem toda uma série de polémicas e questões menos superficiais que parecem querer ser ignoradas e tomadas como certas pelas mesmas pessoas que dizem procurar estabelecer consensos sobre elas - e isto é mais do que grave, é desonesto.
Um bom exemplo desta ausência de consenso é o facto, discutido em profundidade nesta sessão, de existirem duas associações de designers a realizar trabalho paralelo: a APD e a AND. Quando perguntei se existiam contactos entre as duas, deu para perceber que existem problemas muito mal resolvidos dentro da própria classe. Parece existir uma birra entre as duas, embora o senhor da APD tenha admitido que a única diferença entre as duas são os estatutos (?!) Se a própria estratégia de associativismo é passível de discórdia, não é concebível que estas duas associações nos tentem vender assuntos como a Ordem enquanto opiniões consensuais.
O que é triste, no final, é assistir a uma sucessão de argumentos mal polidos em função da burocratização do design, cujos resultados parecem convir mais aos anseios mais tecnocráticos de alguns do que à relevância do próprio design. Ao menos, deu para perceber com quem é que estamos a lidar.
Nota: Mandei um mail à AND com algumas questões sobre os seus estatutos há três semanas. Ainda não me responderam. Será o assunto do próximo post.